quarta-feira, 6 de maio de 2015

pra que lado?




franja. durante muito tempo quis ter uma. a última vez em que tinha usado franja eu ainda estava na minha primeira década de vida. ou seja, faz um tempinho bom.
então que, depois de muito querer, tomei coragem e encontrei um cabeleireiro que topou. ou melhor, uma cabeleireira. sim, porque os dois primeiros que fui não quiseram cortar, alegando que a tal franja dava trabalho, que meu tipo de cabelo, que melhor não cortar tão curto, que ia me arrepender, bláblá. somente a sensibilidade de uma outra mulher pode entender que, quando resolvemos mudar o cabelo, não há quem nos segure. cortei.
passei uma semana brigando com a franja. eu arrumava, ela desarrumava. eu alisava, ela encrespava. alguma coisa na forma como eu penteava não dava certo. voltei no salão e falei pra cabeleireira, categórica: corta mais! e ela cortou de novo.
e nos primeiros dias e semanas eu mantinha uma relação de amor e ódio com essa pequena, mas tão importante parte dos meus cabelos. já reparou como a franja pode mudar todo nosso rosto? ela emoldura nosso sorriso e, se não estivermos satisfeita com ela, não haverá sorriso. 
ouvia das pessoas: nossa, como você rejuvenesceu! a franja te caiu tão bem! e, assim, os impactos iniciais foram me deixando ainda mais confiante de que tinha feito uma boa escolha.
mas a tal da franja, ela não desiste. passado um pouco o tempo, ela foi tomando vida própria e, uma coisa que a gente aprende é que precisamos ir nos habituando a cada novo comprimento, acertando a mão na hora de moldá-la e - vou confessar - isso cansa hein?! quem tem uma dessas na cabeça sabe como é.
depois de muito relutar, finalmente admiti que, de fato, ter franja dá trabalho e, agora que já experimentei uma vez, tudo certo, tudo ótimo, mas vamos deixá-la crescer.
em um belo dia, ela já mais compridinha e um pouco menos ardilosa, brincando em frente ao espelho despretensiosamente joguei-a para o outro lado. sim, o lado oposto que eu costumava usar. simples assim, da direita para a esquerda, e eu vi, numa jogada de franja, tudo mudar. ela não ficou mais rebelde, se assentou como se dissesse "agora sim, estou no meu lugar." tudo isso porque eu tenho uma espécie de redemoinho ou-sei-lá-como-chama-isso bem na raiz do meu cabelo, que não permitia que a franja se ajeitasse de jeito nenhum para o lado que eu insistia em usar, porque achava que aquele era o lado certo. e quando me permiti tentar algo que fugia ao que imaginava que fosse o melhor, uma outra perspectiva se abriu.

foi assim com a franja, é assim com a vida.
às vezes, o lado oposto é que é o certo.

'Who's to say I can't do everything
Well I can try
And as I roll along I begin to find
Things aren't always just what they seem.
I want to turn the whole thing upside down.'
(Jack Johnson)